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Rússia lança ofensiva em Kursk, mas enfrenta resistência ucraniana em meio a combates intensos

Ucrânia resiste à contra-ofensiva russa em Kursk e pressiona Moscou em várias frentes


A Rússia lançou uma ofensiva para retomar o controle de áreas da região de Kursk, perdidas para as forças ucranianas após um ataque surpresa no mês passado. No entanto, a ofensiva ainda não ganhou impulso significativo, e a situação permanece fluida, com combates intensos em várias aldeias.

A Ucrânia surpreendeu tanto a Rússia quanto seus próprios aliados ao lançar o ataque transfronteiriço, mas analistas apontaram desde o início que Kiev teria dificuldades em manter suas conquistas. Relatos indicam que as tropas russas recuperaram algumas áreas, mas o número de forças russas envolvidas na contraofensiva, bem como sua qualidade, ainda são incertos.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, reconheceu o avanço russo e afirmou que pretende enviar entre 60 mil e 70 mil soldados para a região de Kursk. Segundo ele, apesar do contra-ataque, a Rússia “ainda não obteve sucesso significativo”, elogiando a resistência das forças ucranianas.

Os Estados Unidos avaliam que a Rússia precisaria de até 50 mil soldados para expulsar os ucranianos de Kursk. O major-general Pat Ryder, do Departamento de Defesa dos EUA, declarou que as ações russas até o momento foram “marginais” e que analistas não identificaram o volume de tropas necessário para uma rápida expulsão dos ucranianos. Elementos de elite das forças russas, como o 51º Regimento de Paraquedistas, já foram identificados em ataques, mas especialistas do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) afirmam que a maior parte das tropas russas na área carece de experiência de combate.

O foco inicial da Rússia parece ser isolar as forças ucranianas perto da cidade de Korenevo antes de intensificar sua ofensiva. Relatos de oficiais ucranianos sugerem que as forças russas avançaram cerca de dois quilômetros na fronteira ocidental da área capturada pelos ucranianos no mês passado, mas enfrentam dificuldades devido a comunicações deficientes.

Vídeos também mostram a bandeira russa sendo hasteada na vila de Snahost, mas os combates continuam intensos em outras áreas próximas. Ao mesmo tempo, surgem indícios de que a Ucrânia possa estar desenvolvendo novas rotas de ataque, possivelmente para distrair as tropas russas.

Analistas militares afirmam que o ataque ucraniano em Kursk faz parte de uma estratégia maior, com o objetivo de desgastar as forças russas, forçando-as a redistribuir tropas de outras frentes. O presidente Zelensky defende que a operação de Kursk tem sido crucial para conter os avanços russos no leste da Ucrânia, especialmente na região de Donetsk, onde a cidade de Pokrovsk está sob ameaça.

Apesar do abrandamento do avanço russo no início de setembro, o Kremlin ainda prioriza as operações em Donetsk em vez da recuperação de Kursk. A ofensiva ucraniana também é vista como uma forma de ridicularizar as “linhas vermelhas” traçadas pelo presidente russo, Vladimir Putin, e garantir prisioneiros de guerra para trocas, o que já ocorreu.

Zelensky revelou ainda outra razão para a ofensiva: impedir que a Rússia crie “zonas de segurança” no norte da Ucrânia, um plano russo que visava controlar grandes áreas como zonas tampão. Segundo o presidente, essa estratégia russa foi frustrada pela ofensiva em Kursk.

O ISW destacou que a Rússia poderia estar planejando uma ofensiva mais ampla no nordeste da Ucrânia, mas essas ambições parecem ter sido adiadas. Enquanto isso, as forças russas continuam a utilizar táticas de bombardeios intensos seguidos por avanços de infantaria nas ruínas causadas pelos ataques.

A Ucrânia enfrenta desafios imediatos, como a necessidade de reforçar suas linhas defensivas e treinar novas unidades. Além disso, Kiev busca expandir suas capacidades de ataque de longo alcance para destruir infraestruturas críticas russas, como depósitos de combustível e campos de aviação, com Zelensky pedindo maior liberdade para utilizar mísseis de precisão fornecidos pelo Ocidente.

O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ressaltou durante uma reunião com o presidente dos EUA, Joe Biden, que as próximas semanas serão cruciais para o apoio à Ucrânia. No entanto, a administração Biden permanece cautelosa, temendo que uma escalada nos combates leve a uma intervenção direta da OTAN.

O ataque a Kursk pode sinalizar uma mudança na abordagem ucraniana, segundo especialistas. Robert Rose, do Instituto de Guerra Moderna de West Point, acredita que, embora a Ucrânia não consiga derrotar a Rússia por meio de manobras diretas, ela pode explorar vulnerabilidades, forçar a expansão excessiva das forças russas e capturar equipamentos.

O sucesso da operação em Kursk pode, portanto, estar menos relacionado à reconquista territorial e mais ao impacto na tomada de decisões do Kremlin. O professor Matthew Schmidt, da Universidade de New Haven, sugere que a Ucrânia pode pressionar Putin a negociar, especialmente se os combates em Kursk e outros ataques em território russo continuarem a afetar as operações militares russas.

Por fim, o cenário ainda é incerto. A Ucrânia pode ter sucesso em forçar uma mudança nas táticas russas, mas a questão central permanece: como este conflito vai acabar?

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